A
educação tem passado por consideráveis transformações com a inserção das NTICs.
A inclusão da tecnologia veio para transformar e dinamizar o processo de
ensino. A WEB passou a ser vista e
utilizada como a principal ferramenta de construção cooperativa: “de fato as
redes informáticas vieram transformar e ampliar as formas de comunicação à
distância” (PRIMO, 2005, p. 3).
Então, muito
se começou a falar de interação e interatividade, cujos conceitos são
abordados seguindo critérios bem definidos, às vezes, mal compreendidos, desse
modo, mal utilizados. Diversos autores, como Silva (2000), Lemos (2002) e Primo
(2003), começaram um ciclo de discussões, tentando estabelecer um conceito mais
ou menos “ideal” para cada um desses vocábulos, relacionando-os com a cibercultura[1],
e, devido à modernidade, ambos os termos ganharam significados mais abrangentes:
Geralmente nos debates relacionados às tecnologias digitais
destaca-se uma discussão sobre os conceitos de interação e interatividade. É
quase unanimidade entre os estudiosos da temática, como Silva (2000), Lemos
(2002) e Primo (2003), a afirmação de que o termo interatividade, embora
constantemente utilizado, não seja muito bem compreendido, inclusive no âmbito
da pesquisa acadêmica. (CORRÊA, 2006, p. 2)
Levando em consideração os conceitos
de interação e interatividade on-line,
este trabalho busca discutir e analisar o processo de educação à distância nos
cursos de Língua Espanhola e verifica a importância da EAD para o
desenvolvimento das competências comunicativas. O foco norteador é a habilidade
na produção oral, que, para Estivalet e Hack (2011, p. 1761), “talvez a
interação e a comunicação oral entre os alunos e tutores de polo não seja o
suficiente para garantir a otimização e domínio desta habilidade.”
Entre as diversas pesquisas
acadêmicas que tentam justificar a eficácia do ensino de língua estrangeira por
meio de uma rede de computadores interligados, encontra-se, antes de quaisquer
resultados, o fato de se compreender a extensão dos conceitos sobre interação e
interatividade. Afinal, como definir interação?
Para Primo[2]
(2003, p. 15), interação é uma “ação entre” os participantes do encontro, porém,
esse termo tem sido utilizado até em campanhas de marketing: “Neste momento, o termo ‘interatividade’ está cada vez
mais popular. Todavia, não apenas a indústria de informática (e seu
público-alvo) e campanhas de marketing
dos mais diversos produtos abusam do termo”; ele tem adquirido uma elasticidade
e imprecisão constantes, o que impede esse mesmo autor de expressar uma
conceituação mais precisa. Portanto, em virtude da complexidade de definir tais
termos, vamos conceber interação on-line
como a troca de informações entre dois ou mais interagentes em tempo real e
espaços nem sempre definidos a fim de estabelecer comunicação, difundir
conhecimento, ensinar e aprender (interagir).
Primo (2003) faz um panorama
histórico dos termos interação e interatividade procura mostrar, por meio
de diversos enfoques, se, no ato da comunicação, acontece, decerto,
reciprocidade e interdependência, das quais emanam os termos supramencionados.
Mediante o que ele denomina “uma abordagem sistêmico-relacional[3]”
defende o estudo com a interação mediada por computador.
Para justificar sua defesa, ele
passa a levar em consideração dois tipos de interação, de acordo com sua
abordagem sistêmico-relacional: interação
mútua e interação reativa. Esta,
segundo Primo (2005), depende da previsibilidade e da automatização das trocas
de informações, enquanto aquela depende do tempo em que acontecem os eventos
interativos. Ambos os prismas servirão de base para que se possa disseminar a
pesquisa sobre interação. Utilizando-se dos estudos de Silva, Alex Primo busca definir
os “pilares” da interatividade e salienta o binômio permutabilidade-potencialidade:
A liberdade de navegação aleatória é garantida por uma disposição
tecnológica que faz do computador um sistema interativo. Esta disposição tecnológica
permite ao usuário atitudes permutatórias e potenciais. Ou seja: o sistema
permite não só o armazenamento de grande quantidade de informações, mas também
ampla liberdade para combiná-las (permutabilidade) e produzir narrativas
possíveis (potencialidade). SILVA (2000, apud PRIMO, 2005, p. 44)
Seguindo outra vertente, Starobinski
(2002, apud Primo, 2005) aponta que, apesar do rótulo de “interativo” está
vulgarizado na linguagem corrente, o aspecto da ação recíproca é deixado de
lado. Steuer (1992, apud CORRÊA, 2006), por sua vez, argumenta que os meios de
comunicação podem ser classificados, em termos de interatividade, como a
extensão que permite aos usuários participarem modificando a forma e o conteúdo
em um ambiente mediado, em tempo real. Seguindo a mesma corrente de Steuer
(1992), Belloni afirma:
As
NTICs oferecem possibilidades inéditas de interação mediatizada
(professor/aluno; estudante/estudante) e de interatividade com materiais de boa
qualidade e grande variedade. As técnicas de interação mediatizada criadas
pelas redes telemáticas (email, listas de grupos de discussão, webs, sites
etc.) apresentam grandes vantagens, pois permitem combinar a flexibilidade da
interação humana (com relação à fixidez dos programas informáticos, por mais interativos
que sejam) com a independência no tempo e no espaço, sem por isso perder
velocidade. BELLONI (1999, apud FRANCO, 2009, p. 41)
Observa-se que não há uma definição precisa
em relação aos termos interação e interatividade, depende de cada enfoque uma
possível determinação dos conceitos. A problemática que perpassa nossa pesquisa
é como se efetiva essa interação mediada por um computador num curso de língua
estrangeira.
Ao
considerarmos que interação significa “ação entre”, como indica Primo (2005),
podemos entender que interação on-line
é um processo de construção e colaboração coletiva, com tempo e espaço:
situação em que o tempo será “real”, e o espaço será determinado pelo ambiente
virtual de aprendizagem (AVA), ambos mediados pelo computador. É o que acontece,
ou deveria acontecer na EAD.
[1] Entende-se por cibercultura “o conjunto de
técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de
pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do
ciberespaço”. Levy (1999, apud
Matos, 2008, p. 12)
[3] Para Primo (2005), a abordagem sistêmico-relacional vai buscar nos
estudos sobre comunicação interpessoal e sobre a teoria sistêmica uma forma de
valorizar o aspecto relacional da interação e a complexidade do sistema
interativo.
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